BC corta Selic e juro real vai a 1,98% ao ano. Nona queda consecutiva completa um ano do mais agressivo ciclo de cortes desde o Plano Real; taxa fica em 7,5%

 

BC corta Selic e juro real vai a 1,98% ao ano. Nona queda consecutiva completa um ano do mais agressivo ciclo de cortes desde o Plano Real; taxa fica em 7,5%

 

Copom fala em ‘máxima parcimônia’ e indica que, se ainda não acabou, a trajetória de baixa está perto do fim.

Com a nona queda consecutiva dos juros do Banco Central, completou um ano o mais agressivo e controverso ciclo de cortes promovido desde o Plano Real.

Ontem, a Selic, que serve de base para o rendimento das aplicações financeiras e o custo dos empréstimos bancários, foi reduzida de 8% para 7,5% ao ano, novo menor patamar da história da taxa.

Há 12 meses, o BC atordoava investidores e analistas ao interromper uma trajetória de alta e derrubar o juro de 12,5% para 12% anuais, mesmo com a inflação acima da meta oficial.

O comunicado do Comitê de Política Monetária indicou que, se não acabou, a trajetória de queda está perto do fim: “Se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com máxima parcimônia”.

Antes da decisão, analistas de mercado apostavam em uma última redução da Selic, para 7,25%.

Independentemente de sua continuidade, a estratégia de estímulo monetário já rendeu trunfos para a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff.

O governo pode apresentar como obra sua os juros reais -descontada a inflação esperada- de 1,98% ao ano, que, embora ainda altos para os padrões internacionais, são de longe os menores do país em três décadas.

E o BC, cuja autonomia passou a inspirar desconfiança a partir do ano passado, pode afirmar que acertou ao prever uma forte freada da economia associada ao agravamento da crise externa.

Já os resultados concretos de tais feitos e acertos são, até este momento, bem menos animadores.

A reação do consumo e dos investimentos tem sido mais lenta e modesta que o projetado. A aposta central do mercado hoje é de um crescimento econômico de apenas 1,73% neste ano, pouco menos da metade dos 3,5% esperados pelo BC em março.

Entre os quatro principais ciclos de queda de juros desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999, nenhum demorou tanto a produzir aceleração da atividade econômica. Na crise de 2009, foram seis meses de queda consecutiva -e sinais de retomada surgiram no segundo semestre.

Este é também o primeiro ciclo de afrouxamento monetário feito enquanto a inflação projetada se mantém acima da meta de 4,5%, sem tendência clara de baixa.

A política inédita demonstra a agressividade do BC, mas encurta o fôlego da queda dos juros. Para os especialistas, o risco de escalada dos preços deverá forçar um novo aperto monetário a partir de abril de 2013.

 

Juros caem, mas retomada está atrasada

Investimento em baixa, crise global e crédito travado tiraram eficácia dos estímulos e atrapalharam o efeito dos cortes

Inflação em 12 meses está em 5,2%, acima do objetivo determinado ao BC; expectativas para 2013 são de alta

DE SÃO PAULO
Um ano depois de iniciado o ciclo de corte de juros pelo Banco Central, a atividade econômica permanece fraca. Economistas buscam entender por que a redução da taxa básica ainda não produziu a esperada retomada.

A crise na Europa afetou as expectativas de empresários e abateu investimentos, mas não foi capaz de debelar reajustes de preços no Brasil.

A economia caminha para um crescimento de cerca de 2% neste ano, abaixo do de 2011 (2,7%). Mas a inflação estacionou acima de 5% -nos 12 meses encerrados em julho foi de 5,2%.

“O grande vilão do baixo crescimento é o investimento, e ele não andou com a queda dos juros”, afirma Jankiel Santos, economista-chefe do banco de investimentos Espírito Santo.

“A redução deveria ter efeito, mas como planejar investimentos se o mercado prevê que haverá novo aumento de juros no ano que vem?”, diz.

Na opinião do economista, para controlar a inflação em 2013, o BC terá que subir novamente a taxa básica. A opinião é corrente no mercado.

A mais recente pesquisa do BC com analistas mostra que a maioria prevê juros em 8,25% ao fim de 2013. Ontem, a taxa passou a 7,5%.

Para o economista-chefe da corretora Votorantim,

Roberto Padovani, além da menor confiança dos empresários, a queda dos juros ainda não chegou completamente ao consumidor.

Com o aumento da inadimplência, os bancos ficaram mais seletivos para emprestar. O aumento recente das concessões de crédito ocorreu, até agora, pela ação dos bancos públicos.

“Quando o crédito destravar totalmente, e isso deve ocorrer nos próximos meses, os incentivos vão fazer efeito”, afirma Padovani.

Dados de junho animaram economistas sobre a recuperação, mas números de julho ainda põem em dúvida o ritmo de retomada. Ontem, a Empresa de Pesquisa Energética divulgou que o consumo de energia da indústria voltou a cair em julho.

A combinação de crescimento fraco e projeção de inflação mais alta faz economistas divergirem sobre a eficácia da estratégia do BC.

Para o economista André Biancarelli, da Unicamp, o BC agiu certo: “As expectativas de crescimento estariam piores e as condições para a retomada também”, diz.

Ex-diretor do BC, o economista Alexandre Schwartsman, reitera críticas à autoridade monetária: “O BC falou que o ambiente externo era desinflacionário e que isso o faria entregar a inflação na meta. Não entregará neste ano, nem no ano que vem”.

 

  Fonte: Folha de S.Paulo    

Saiba como e quais as vantagens
de se associar ao Sescon MG



    * campos obrigatórios