O jogo das oportunidades em 2014

 

O jogo das oportunidades em 2014

 

 

Jornal do Comércio / RS

Patrícia Comunello

A Copa do Mundo de 2014 está logo ali. E todo empreendedor que se preze deve responder a si mesmo: qual será a parte da receita do maior evento do planeta que caberá ao meu negócio? Quem ainda não se fez a pergunta deve prestar atenção às oportunidades em 600 segmentos no Estado

Aos 21 anos, Lucas Sanchez não sabe ainda se assistirá a algum jogo da Copa do Mundo de 2014. Mas o designer da área de tecnologia da informação (TI) espera que seu guia de informações em inglês e alemão esteja bem à mão dos milhares de visitantes que despencarão nas 12 subsedes do evento, entre elas Porto Alegre. Lucas e um amigo criaram o Talking Tourist, interface para celular que se propõe a guiar os usuários pelos serviços de hospedagem, alimentação e diversão para a temporada esportiva. A ideia poderá estar na seleção do Desafio Startup para a Copa 2014, lançado em 2011 pela carioca MJV e que bancará inovações como a de Sanchez, até que um investidor compre literalmente o aplicativo.

Esse é só um jeito de se fazer dinheiro com o Mundial. O Sebrae nacional mapeou mil outros em todo o País, sendo 600 apenas no Rio Grande do Sul. Soluções que usem e abusem da mobilidade, como a do novato porto-alegrense, têm tudo para virar febre. Na Copa do 4G (rede de alta velocidade para dados em comunicação móvel), quem chegar antes leva. “Não queremos quantidade e sim qualidade nos acessos e na oferta de locais. A meta é identificar dicas que supram a necessidade do visitante”, vislumbra Sanchez, que não vê a hora de lançar o projeto nacionalmente.

Para virar um atrativo a investidores, a proposta é vincular publicidade no roteiro móvel que o usuário levará a todo lugar. “Sei que não podemos estar na área de ação dos jogos, terrenos restrito à Fifa, mas o turista estará lá, vendo sua seleção e buscando seu destino pelo nosso aplicativo”, entusiasma-se o jovem empreendedor. Os apoiadores do aplicativo são os diretores da MJV, como Ysmar Vianna, que recebeu 400 candidatos a startup rumo ao Mundial e agora abrirá nova temporada para tentar fisgar mais projetos. A empresa do ramo de TI opera como um acelerador de empresas e reservou R$ 300 mil em 2012 para injetar nos testes de aplicativos como o Talking Tourist. Cada empreendedor poderá ter R$ 30 mil. “Vamos testar o produto captando a opinião dos usuários. Os equipamentos móveis serão cada vez mais comuns. A percepção é de que virão milhares de visitantes e temos de ajudá-los a explorar o Brasil”, adverte.

Já o Sebrae está disposto a formatar negócios e qualificar operações que percebam a janela do evento. O coordenador do programa a Sebrae 2014, Dival Schmidt, explica que o órgão reuniu ferramentas que vão dar suporte desde a documentação legal e certificações até a medição de resultados. “Estamos focados nos quase R$ 200 bilhões que o Mundial vai movimentar”, dimensiona o coordenador. Para treinar os micro e pequenos empreendedores (MPEs), os escritórios do serviço terão R$ 100 milhões, a serem repassados por meio de consultorias e oficinas. Serão identificadas 3 mil MPEs nas 12 subsedes. “Seguimos o modelo de Londres para a Olimpíada deste ano. Identificamos segmentos, indicamos melhorias e tentamos atrair clientes”, detalha Schmidt. 

No Estado, foram dois eventos mobilizadores em 2011. Serão priorizados este ano os nichos de construção, TI, turismo e mobiliário, que são vistos como os mais demandados nesta etapa. Até fevereiro, o Sebrae gaúcho receberá inscrições. “Este ano vamos intervir nas empresas. Não dá mais para esperar. Idioma como o inglês não se aprende em seis meses”, exemplifica Amanda Paim, coordenadora regional do programa. No País, a Copa deve movimentar, conforme dados da Fundação Getulio Vargas, R$ 183,2 bilhões – sendo R$ 47,5 bilhões diretos (obras para preparar as cidades e outros investimentos em melhorias) e R$ 135,7 bilhões indiretos.

O assessor econômico da Fecomércio-RS, Lucas Schifino, fez a conta e estimou em R$ 270 milhões a R$ 300 milhões o fluxo de receita com visitantes na Capital e no entorno somente na temporada de jogos, que por aqui serão travados na primeira fase e nas oitavas de final. “Caso tenhamos alguma seleção do Mercosul jogando aqui, o impacto pode aumentar R$ 20 milhões a R$ 30 milhões. O potencial de ganhos se estende a toda a cadeia”, previne Schifino.

 

Restaurantes mergulham na cadeia de abastecimento

 

uem disse que é o assador que controla a qualidade do banquete típico da Churrascaria Galpão Crioulo, situada no Parque Harmonia, próximo ao Centro? Com sua touca e jaleco brancos, Elza Moura, uma técnica em nutrição, é o mais recente reforço do time de mais de 50 empregados. A atuação da profissional descortina uma das apostas do segmento de gastronomia para a Copa, que é aumentar a ascensão sobre a cadeia de fornecimento. “Se não tiver qualidade, a carne volta ao frigorífico”, avisa a técnica. E o julgamento não observa cortes, fibras ou espessura da gordura.

Elza monitora sem trégua a temperatura da peça, a validade, as condições de chegada e como é acondicionada. Na cozinha, a rotina também passa por uma revisão geral, com supervisão também de uma nutricionista. Agora ela vai para dentro dos abatedouros. Um dos sócios da casa, Adalberto Zanatta reforça que a intenção é ajudar a qualificar os parceiros, neste caso mais de 40 fornecedores. “Servimos 12 mil refeições ao mês. É muita responsabilidade, que vai aumentar para o Mundial”, antevê Zanatta, que programa investimentos no mobiliário e na prestação do serviço. O novo cardápio que estreia em março será em inglês, espanhol e italiano, além do português. “Churrasco será barbecue, para os americanos”, cita o sócio-proprietário. O cardápio sofreu mudanças e voltou a origens da culinária campeira.  

Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Estado, Fernanda Etchepare, confirma que o programa voltado ao Mundial está mergulhando na estrutura de operação dos estabelecimentos, o que inclui lidar com limitações, como escassez de alguns itens diferenciados e que consumidores exigentes do centro do País e os turistas que virão devem certamente buscar no varejo local. “Do PIB do turismo, 40% é alimentação”, lembra a dirigente. Na preparação rumo a 2014, a Abrasel firmou parceria com o Ministério do Turismo e já treinou 1,1 mil pessoas de 116 empresas desde 2010. Entre os focos, estão a segurança alimentar (na linha do que a churrascaria está fazendo), o atendimento e o domínio do idioma.

No fim de 2011, a entidade foi surpreendida com a suspensão de repasses ante as suspeitas de desvios que ocorreram em outros estados. ”Acabamos tendo de completar o dinheiro. Mas esperamos retomar logo a ação, pois temos muita coisa para fazer até 2014”, projeta Fernanda. O Senac-RS montou um acervo de cursos em TI, produção cultural e de design, ambiente, saúde, gestão e serviços de transporte, como o de táxi, e quer treinar 230 mil pessoas em dois anos e meio. No País, o organismo traçou a meta de qualificar 1 milhão de trabalhadores. No Estado, serão 115 mil gratuitamente. O diretor regional do organismo, José Paulo da Rosa, explica que a intenção é atacar as maiores carências, entre capacitações mais curtas e de até um ano. “A Copa é um bom motivo para qualificar os setores”. O investimento é calculado em R$ 1 mil por aluno.

 

Pequenos terão vez, diz executivo que atende patrocinadores

 

Não vai dar para vender cachorro-quente no entorno do Estádio Beira-Rio. Mas a oportunidade poderá estar em conseguir virar o fornecedor de quem ficar com o contrato para explorar o segmento nos dias da competição. O alerta é do sócio da agência Octagon no Brasil, Fred Pollastri, que está acostumado a lidar com os grandes patrocinadores do Mundial. Ele adverte que micro e pequenos empreendedores ganharão e muito com o evento. Só dependerá deles, avisa. Pollastri lembra que a empresa começou a trabalhar o negócio do Mundial um ano antes de a sede ser confirmada, em 2006, ao se associar à agência americana de marketing esportivo.

Para o executivo, Porto Alegre precisa recuperar terreno. Após deixar escapar a Copa das Confederações, perda associada ao impasse na negociação entre a construtora Andrade Gutierrez e o Internacional, Pollastri avisa que a Capital deve fazer jus ao tamanho de seu mercado de futebol. O Inter tem, por exemplo, o segundo maior faturamento entre os clubes nacionais. “Embora tendo muita relevância no futebol, a cidade ficou um pouco para trás”, observa o executivo. O raciocínio é objetivo e contrasta a posição de outras capitais que levaram a melhor, inclusive na divisão dos jogos de 2014. “A Fifa decide em cima de cronograma. Os que não deixaram para a última hora têm benefícios. Isso está claro”, previne. E isso tem efeito na cota de gastos de patrocinadores e nos programas de hospitalidade.

Pollastri atenta para as oportunidades que surgirão mesmo com alguma desvantagem na posição da subsede. Há inúmeros serviços que serão demandados para atender ações que patrocinadores farão a clientes e convidados e demais públicos dentro dos estádios. Haverá toda uma logística para suprir as necessidades. O executivo cita oportunidades para locações de flores, contratação de segurança, garçons e promotoras, adesivagem e até cordão para crachás. “Sem a Copa, não teria nada disso. Até locação de helicóptero certamente será requisitada.”

Ele lembra que serão atraídos maisde 3 milhões de turistas estrangeiros, com potencial de gastos de R$ 5,3 bilhões. “A prefeitura e os setores precisam se posicionar como um dos locais de interesse. Entre um jogo e outro serão cinco dias. As pessoas vão querer viajar e irão para os destinos que chamarem a atenção.” Uma boa tática, recomenda o especialista, é formatar um calendário de ações para chamar o público, com eventos esportivos de visibilidade internacional. “E tem de começar em 2012 e não parar mais. O mundo vai conhecer mais o Brasil”, acredita. 

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