Endividamento e cenário mundial atrasam fim da crise

 

Endividamento e cenário mundial atrasam fim da crise

 

O arsenal de medidas usadas pelo governo para reativar a economia e tirar o Brasil da trajetória de desaceleração que se instalou no mundo todo é o mesmo que ajudou o Brasil na crise de 2008/2009. Baseado no afrouxamento monetário, corte de impostos para bens duráveis e destravamento do crédito, contudo, o remédio não está funcionando como antes. Para analistas, a pequena eficácia das medidas já adotadas pelo governo é resultado da natureza distinta entre as duas crises, e também é explicada pelo momento distinto vivido pelas economias doméstica e mundial.

Em 2008, a quebra do Lehman Brothers instaurou o pânico nos mercados financeiros e travou os canais de crédito, mas a resposta das autoridades globais, especialmente do Fed, foi rápida e favoreceu uma recuperação já no ano seguinte. Dessa vez, é uma crise de dívida soberana na zona do euro, que representa cerca de 25% da economia global, que preocupa investidores e diminui a capacidade global de crescimento, inclusive nos emergentes, que antes pareciam imunes às preocupações dos países desenvolvidos.


No Brasil, dizem analistas, os incentivos à demanda esbarram em consumidores mais endividados e com propensão menor a assumir novos compromissos. Em abril, último dado divulgado pelo Banco Central, o comprometimento com dívidas atingiu 22% da renda das famílias, quatro pontos percentuais acima dos 18% registrados no mesmo mês de 2008. Eles também avaliam que estímulos ao consumo não são suficientes na conjuntura atual para dinamizar a oferta, já que o excedente de produção mundial ainda coloca os importados em patamar competitivo, mesmo com o câmbio mais depreciado dos últimos meses.

Tony Volpon, chefe de pesquisa de mercados emergentes da Nomura Securities, destaca estudo do BC divulgado no Relatório de Inflação, que aponta o papel dominante das importações no atendimento do consumo doméstico de bens industriais. Nos quatro primeiros meses deste ano, os importados chegaram a roubar mercado da indústria nacional. No ano passado, os importados ficaram com 100% da expansão anual do consumo. De janeiro a abril, em relação a igual período de 2011, enquanto o consumo interno desses bens caiu 2,4%, a presença de importados cresceu 0,4%, segundo o BC. “O Brasil tem um problema sério de competitividade” que não está sendo atacado pelo governo, diz Volpon.

Com consumo menos pujante e produção em queda, a saída para crescer mais seria via investimentos, que se encontram paralisados diante da incerteza elevada proveniente do ambiente externo. O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, lembra que, após a crise de 2008, a confiança dos empresários não foi tão severamente afetada porque o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) agiu rapidamente para evitar um colapso geral no sistema bancário, enquanto autoridades deram conforto ao mercado com a afirmação de que havia instituições financeiras grandes demais para quebrar.

Essa postura, afirma Borges, é o contrário da adotada pelo Banco Central Europeu (BCE), que “reluta há dois anos em atuar como emprestador de última instância. Isso mudou um pouco na gestão de Mario Draghi, mas mesmo assim a postura inflexível da Alemanha ainda pesa sobre as decisões da instituição”, diz. Sem expectativa de solução para a situação europeia, ele avalia que a incerteza em relação à economia global continua adiando decisões de investimento e segura o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

“A união monetária começou errada, e não é na hora da crise que se pode esperar um ajuste definitivo”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Em sua opinião, o pior da crise ainda não passou, já que só há duas soluções possíveis para a Europa: amargar um longo período depressivo ou desfazer o euro e recomeçar do zero. “Por isso ficamos todos em compasso de espera para o resultado final, que não tem data para ocorrer. Quando acontecer, teremos um resultado muito pior para a economia brasileira”, prevê, acrescentando que o “momento final” não deve tardar.

Volpon, da Nomura, afirma que a crise atual é muito menos intensa do que a de 2008, embora seja, de fato, mais longa. Ele cita o Vix, índice de volatilidade bastante acompanhado pelo mercado financeiro, para afirmar que a crise mundial hoje é muito menos severa do que a anterior. Naquele momento, o indicador chegou a 89 pontos. Hoje, está em 17 pontos. Em sua visão, as políticas anticíclicas também foram mais efetivas naquela época nos países emergentes, especialmente na China.

Há três anos, os preços das commodities se recuperaram rapidamente e os termos de troca (relação entre preços de exportação e importação) continuaram favoráveis ao Brasil. No episódio atual da crise, diz, “os cartuchos se esgotaram”. No país asiático, ele vê um problema de excessiva alavancagem, principalmente no setor imobiliário, e por isso as autoridades estão mais cautelosas na concessão de estímulos, embora tenham afrouxado a política monetária recentemente. No segundo trimestre, a China cresceu 7,6% em relação ao mesmo período de 2011, menor taxa em três anos.

Para Borges, da LCA, não são apenas as economias centrais e a China que impõem uma retomada mais lenta da economia brasileira neste ano. A Argentina, principal mercado para produtos manufaturados brasileiros, vinha crescendo numa média de 8% entre 2003 e 2011, avanço que deve desacelerar para algo em torno de 3% este ano, segundo o economista.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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